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FILOSOFIA

Investigar e descrever a língua portuguesa, com base em análise do comportamento linguístico observável (sincrônica e/ou diacronicamente) e/ou em exame de registros oriundos de pesquisa experimental baseada no uso.

 

Perspectivar os fenômenos linguísticos num quadro de enfoques teórico-metodológicos com potencialidade de integração e compatibilização e com atenção à contextualidade da observação, do observador e do observado: Sociolinguística, Linguística Cognitivo-Funcional, Gramática de Construções, principalmente, e ainda outros enfoques.


Assumir orientação onomasiológica e/ou semasiológica, a depender dos problemas de pesquisa; admitir construção com diversas configurações (no nível fonético-fonológico, lexical, (supra)sentencial ou discursivo) e, então, diferentes relações entre elas (associativas ou dissociativas, de compatibilização).

 

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Conceber a potencialidade de processos de estabilização, variação e/ou mudança, tendo em vista a tensão entre forças de unidade e variabilidade, repetição/convencionalidade e inovação/criatividade, iconicidade e arbitrariedade, bem como a relação entre identidade normalizada ou padronizada, identidade multifacetada (individual e de comunidade) e qualidade e densidade das redes sociais (do indivíduo e de grupo).

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Considerar que: a expressão de pensamentos, emoções e significados envolve linguagem verbal e não-verbal; e o conhecimento de uma língua está na mente dos indivíduos e nas normalizações da heterogeneidade ordenada da comunidade (generalizações cognitivas); e esse conhecimento pode ser parcialmente apreendido nas representações abstratas concebidas pelos linguistas.

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Pensar, profundamente, o processo de pesquisa e acolher, estrategicamente, alternativas de trabalho (em equipe ou individual) para viver, com prazer, o mundo da investigação científica, a partir dele fazer diferença e, assim, nele ser feliz. Desenvolver o círculo dos afetos, do (auto)conhecimento e da criatividade em NÓS.

ENCONTROS

Uma das atividades da equipe tem lugar nos encontros semanais (ou quinzenais) de interlocução às quintas-feiras na sala F-310 da Faculdade de Letras da UFRJ. Atualmente eles vêm ocorrendo virtualmente, por videoconferência. Neles, tratamos de temáticas, textos ou métodos que interessam a todos os membros do grupo e discutimos contribuições de leituras relacionadas aos nossos objetos de observação, para o encaminhamento das investigações com adequação observacional, descritiva e explicativa. Os encontros são sempre pautados em resenhas críticas de artigos científicos ou capítulos de livros.

HISTÓRICO

O Projeto PREDICAR, liderado por Marcia dos Santos Machado Vieira, vincula-se à linha de pesquisa “Língua e sociedade: variação e mudança” do Programa de Pós-Graduação de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Após quase 20 anos de atuação, encontra-se na sexta fase de desenvolvimento de investigações científicas.

A primeira fase (2002-2008) desenvolveu-se sob o título Formação e Expressão de predicados complexos: polifuncionalidade verbal, um desdobramento da Tese de Doutoramento Sintaxe e semântica de predicações com verbo FAZER de MACHADO VIEIRA (2001). Iniciou-se na ocasião em que concorreu ao Programa de Apoio a Docente Recém-Doutor 'Antonio Luís Vianna' (ALV'2002) da UFRJ e foi classificado entre 10 projetos de pesquisa encaminhados pelo Conselho de Ensino para Graduados (CEG) da UFRJ à Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB), da qual, em 2004, recebeu apoio financeiro para a aquisição de bens permanentes e materiais de consumo. Nessa fase, investiu-se no estudo da polifuncionalidade de formas verbais e na descrição de certas extensões de uso/sentido destas como operadores gramaticais em perífrases verbais e perífrases verbo-nominais. A frente de trabalho foi: "Comportamento multifuncional de formas verbais simples e complexas.”

A segunda fase (2008-2012), registrada sob o título “PREDICAR – Formação e expressão de predicados complexos: percepção e uso no Brasil e em Portugal”, propôs um refinamento da pesquisa de predicados complexos constituídos de verbo e elemento não-verbal com base em materiais que permitiram a análise (i) do comportamento linguístico de usuários do Português do Brasil (PB) e do Português de Portugal (PP) observável em novos levantamentos de textos orais e escritos produzidos em diferentes gêneros textuais nessas variedades nacionais e (ii) da percepção e/ou a avaliação subjetiva de falantes brasileiros e portugueses sobre diferentes aspectos detectados a partir da análise de corpora múltiplos. Além disso, também desenvolveram-se estudos sobre: a regra variável da concordância verbal em construções com predicadores complexos acompanhados de SE tradicionalmente classificado de apassivador, a alternância de verbos pronominais e verbos plenos cognatos, a gramaticalidade de formas verbais e a lexicalização de construções com verbo suporte. A frente de trabalho nessa fase foi: "Metodologia de pesquisa experimental para estudos de percepção e de avaliação subjetiva".

A terceira fase (2013-2017), intitulada “PREDICAR – Formação e expressão de predicados complexos: gramaticalidade e lexicalização”, centrou-se em investigações relativas à gramaticalidade de formas verbais simples e complexas (enfocando, primeiramente, as constituídas de verbos relacionais e verbos (semi-)auxiliares temporais e aspectuais) e aos processos de gramaticalização e lexicalização de construções que envolvam itens verbais. A ênfase recaiu no comportamento semântico-discursivo e sintático das formas verbais que se submetem a esses processos de mudança linguística, na categorização funcional dessas formas e das construções que estas compõem, no nível de gramaticalização e/ou lexicalização dessas estruturas em comparação com seus usos em outras construções que não se submetem a tais processos, nas funções semântico-discursivas das construções na composição do sentido textual e em diferentes espaços sócio-comunicativos e na alternância entre predicadores complexos e formas verbais simples de sentido equivalente. A equipe do projeto iniciou, nessa terceira fase, estudos sob a articulação de orientações da Abordagem Construcionista e da Linguística Cognitiva a orientações do Funcionalismo e do Sociofuncionalismo (TAVARES, 2013), adotadas desde o início do projeto. Com isso, a frente de trabalho que se destacou foi a seguinte: "Processos de mudança: gramaticalização e lexicalização ou construcionalização gramatical e lexical".

Na quarta fase do projeto (2016-2018), sob o título  Formação e expressão de predicados complexos: estabilidade, variação e mudança construcional (Etapa I) consolidaram-se duas vertentes de pesquisa que se desencadearam a partir de estudos feitos na fase anterior sob enfoque funcional-cognitivo e construcionista e que passaram a somar-se à pauta de interesses da equipe: "Pareamento forma-sentido em predicadores complexos e em predicações" e "Processos de mudança construcional e construcionalização (lexical e gramatical)". Tais interesses contam, desde 2016, com subsídios de discussões promovidas no âmbito do Grupo de Estudos Discurso & Gramática (sediado nos polos Rio de Janeiro (UFRJ), Niterói (UFF) e Natal (UFRN)), do qual a docente coordenadora do Projeto PREDICAR é integrante.

A quinta fase do projeto (2018-2020), ainda sob o mesmo título Formação e expressão de predicados complexos: estabilidade, variação e mudança construcional (Etapa II), centra-se no desenvolvimento de estudos socioconstrucionistas para a descrição de variação construcional a partir do artigo de MACHADO VIEIRA (2016). Com isso, soma-se aos anteriores interesses de pesquisa outra frente de pesquisas: "Análise socioconstrucionista de formas verbais". Então, a variação construcional passa a ser o fenômeno focalizado nos estudos, sem perder de vista o que se estabiliza ou o que muda nos estudos levados a cabo. Pesquisaram-se, em geral, construções de estrutura argumental ou construções do tipo procedural ou lexical. Investiu-se no estudo de construções relacionais, construções gramaticais com verbos suportes ou (semi)auxiliares, construções idiomáticas, construções com pronome SE apassivador/indeterminador, construções de impessoalização discursiva (com ter, haver e ter-se, entre outras formas). Focalizaram-se estes temas: (i) a compatibilização entre construções (in)transitivas e formas verbais simples ou complexas, (ii) o comportamento pragmático, discursivo, semântico, morfossintático e fonético-fonológico ((supra-)segmental) das formas verbais e das construções com que se compatibilizam, bem como sua categorização funcional, (iii) o nível de esquematicidade, produtividade e composicionalidade dessas formas/estruturas em comparação com seus usos em outras construções, (iv) as funções das construções na conceptualização de cenas dinâmicas ou não. Para tanto, somaram-se orientações do Cognitivismo e da Gramática das Construções a orientações do Funcionalismo e do Sociofuncionalismo adotadas desde as três primeiras fases do projeto.

Na sexta fase, o projeto, a partir de 2020, sob o título Formação e expressão de predicados complexos e predicações: estabilidade, variação e mudança construcional,  centra-se nas relações de associação e dissociação, bem como nas de compatibilização entre construções de diferentes níveis (lexical, (supra)sentencial, discursivo). Com isso, passa a operar com outra frente de trabalho: "Compatibilização de formas predicantes e de predicações em construções discursivas". Generalizações sobre construções suprassentenciais e discursivas ainda são uma lacuna nas representações oriundas de estudos construcionistas em prol da configuração da Gramática de Construções do Português. As investigações agora assumem enfoque: (i) (cognitivo-)funcionalista e (ii) (socio)construcionista (GOLDBERG, 1995, 2006, 2019; HILPERT, 2014, 2017; CAPPELLE, 2006; PEREK, 2015; DIESSEL, 2015 e 2019; MACHADO VIEIRA, 2016; MACHADO VIEIRA & WIEDEMER, 2019; SCHIMID, 2020). Os estudos orientados para o que é estável e/ou o que varia ou muda lidam com: a relação de compatibilização entre construções (procedurais e lexicais), a gramaticalidade de lexemas simples ou complexos, bem como a variação (por polissemia ou analogia/similaridade), mudança construcional ou construcionalização (gramatical/procedural ou lexical) de construções verbais/verbo-nominais. Pesquisam-se construções de estrutura argumental, de referencialidade e predicadores simples e complexos. Entende-se que conhecimento linguístico individual e o socialmente partilhado são tanto estáveis como sujeitos a variação e mudança.

Investe-se no estudo de construções relacionais, construções gramaticais com verbos (semi)suportes ou (semi)auxiliares, construções idiomáticas, construções com pronome SE apassivador/indeterminador e flexão verbal nessas construções, construções com lexemas de cores, construções de impessoalização discursiva, atenuação discursiva e intensificação, construções de articulação de orações, construções passivas, construções de aspectualidade e de modalização, construções de desejo/futuridade. Focalizam-se, nessas investigações, aspectos como: (i) a compatibilização entre construções (in)transitivas e formas verbais simples ou complexas, (ii) o comportamento pragmático, discursivo, semântico e morfossintático das formas verbais e das construções com que se compatibilizam, bem como sua categorização funcional, (iii) o nível de esquematicidade, produtividade e composicionalidade dessas formas/estruturas em comparação com seus usos em outras construções, (iv) as funções das construções na conceptualização de cenas dinâmicas ou não ou outros contornos acionais, (v) a contextualidade de construções e a potencialidade de construções discursivas/suprassentenciais. 

Para tanto, somam-se orientações da Linguística Cognitiva e da Gramática das Construções a orientações do Funcionalismo e do Sociofuncionalismo, estas duas adotadas desde as três primeiras fases do projeto. E assume-se, ainda, sua articulação com a Sociolinguística, num enfoque socioconstrucionista (defendido em MACHADO VIEIRA & WIEDEMER, 2019; WIEDEMER & MACHADO VIEIRA, 2018).

As pesquisas orientadas para os casos de variação por analogia lidam ou (i) apenas com formas verbais simples, (ii) com predicadores simples e complexos, (iii) só com complexos verbais, (iv) com articulação de predicações, (v) ou destas a construções discursivas. E, a partir de um olhar dos fenômenos linguísticos que prevê generalizações também sobre variação construcional, lida-se com os problemas das restrições, da transição e da avaliação subjetiva, desenvolvendo-se as análises de materiais relativos a usos, a percepções/avaliações subjetivas e a atitudes no Brasil. Assume-se que nem mesmo membros de uma comunidade de fala tenham conhecimento linguístico idêntico.

Tem especial importância a investigação de funções semânticas, discursivas, pragmáticas e cognitivas das construções na elaboração de textos, considerando-se diferentes espaços comunicativos e/ou de prática discursiva, bem como de forças que operam sobre ela e/ou restrições históricas, sociais e individuais segundo as quais ela se dê. Ademais, interessam as consequências dessa elaboração no sistema linguístico. No estudo centrado na elaboração linguística concebe-se, em linhas gerais, um complexo multifatorial atuando sobre a relação entre uso e generalização/sistematicidade, em razão dos fenômenos de criatividade/variabilidade e repetição/unidade.

De acordo com Schmïd (a sair), atividades motoras (necessárias à produção de enunciados em linguagem verbal (oral ou escrita), sinalizada (línguas de sinais) ou não-verbal/corporal-gestual), atividades sensoriais (necessárias à percepção/avaliação e ao processamento de enunciados e aspectos de contextualidade que importem a referenciação, significação ou compreensão), atividades cognitivas e neuronais (necessárias ao planejamento, formulação e entendimento de enunciados contextualmente situados, bem como à potencialização e consolidação de associações ou reorganização de associações) e atividades sociais e interacionais (inerentes à comunicação) constituem condições para a emergência, persistência (ou não), difusão, variação, mudança de unidades/generalizações linguísticas na mente dos indivíduos de uma comunidade linguística e na rede social de que eles participam (no conhecimento linguístico que a comunidade partilha). E pelo menos quatro forças (relativas a diferentes tipos de fatores) influem nessas atividades envolvidas no uso: (i) forças cognitivas –  por exemplo, similaridade, contiguidade, saliência, categorização, processamento; (ii) forças pragmáticas – por exemplo, atos de fala, cenários/cenas, participantes, tipos de eventos, intenções; (iii) forças emotivo-afetivas – desejo, egocentrismo, empatia, diversão, indiferença, rejeição, entre outras; (iv) forças sociais – identidade, solidariedade, redes sociais, prestígio, entre outras.


Com os resultados obtidos, tenciona-se, em última instância, fornecer subsídios para um tratamento dos temas relativos a predicação e a construções envolvendo verbos, em material produzido no âmbito da descrição linguística e do enfoque didático-pedagógico, mais condizente com os usos e as percepções dessas estruturas que viabilizam a predicação verbal. 

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